domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tattoos & Tequila


Depois de 15 anos desde o último registro em estúdio, o vocalista e festeiro Vince Neil (Motley Crüe) volta a dar vida à sua carreira solo sob o sugestivo nome de “Tattoos & Tequila”, que segue a risca a cartilha do Hard Rock, com os já manjados refrãos grudentos, climão de festa e bebedeira e boas doses de energia.

Até aqui o leitor pode achar que está tudo dentro do esperado em se tratando de um dos maiores ícones do Hard Rock, mas o balde de água fria vem com ‘tracklist’ do álbum, que totaliza 12 canções, sendo apenas duas inéditas. Isso mesmo caro leitor, Vince precisou de longos 15 anos para soltar um “bonzinho” álbum de covers.

Ninguém está colocando em cheque a performance e competência de Vince (vocal) e seus companheiros de banda - Dana Strum (baixo), Jeff Blando (guitarra), Zoltan Chaney (bateria) - mas esperava-se que fosse seguida, sim, a cartilha do Hard, com canções inéditas e, quiçá, um ou dois ‘covers’.

Como dizem os antigos: “não adianta chorar pelo leite derramado”, ou seja, lamentar pelo o que poderia ser feito de diferente não mudará em nada a realidade, então, ‘bora’ tirar o melhor de cada situação e, no caso, curtir o que o álbum tem a oferecer.

Com bom gosto de dar inveja, Vince escolheu a dedo canções que representassem sua vida e carreira, temas como: “He’s a Whore” (Cheap Trick), “Nobody’s Fault” (Aerosmith), “Long Cool Woman” (The Hollies), “Viva Las Vegas” (Elvis Presley) e “Bitch is Back” (Elton John). Elas ganham novos contornos e acentuado peso e, porque não, uma nova identidade com sua interpretação.

O destaque vai para as inéditas: “Tattoos & Tequilas”, com seu pujante peso e refrão mais grudento que chiclete derretido, e a bonitinha balada “Another Bad Day” à la “Don’t Go Away Mad”. E, lógico, para provocante arte da capa.

“Tattoos & Tequila” pecou não pelos ‘covers’ escolhidos, mas, sim, por usá-los em quase seu ‘tracklist’ total. Com a qualidade do vocalista e banda, um disco de inéditas seria mais apropriado. Bonzinho sim, excelente não!


Nota: Fiz essa matéria pelo site Território da Música. Segue o link da publicação original www.territoriodamusica.com/resenhas/?c=3387

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

De volta ao topo





O ano de 2010 está sendo marcado pelos lançamentos de grandes e importantes nomes do cenário metálico, uns pela expectativa - que ora acabam se revelando um grande presente de grego, que nem para peso de papel serve -, mas outros, sim, como verdadeiros presentões aos fãs de música pesada, como é o caso do álbum “The Panic Broadcast” da banda sueca Soilwork.

Nesse oitavo registro de estúdio, maturidade é o adjetivo que melhor define o álbum e contempla o atual momento na carreira dos músicos. Com a volta de seu principal compositor e fundador, Peter Witchers (guitarra), no final de 2008, o Soilwork - Björn Strid (vocal); Sven Karlsson (teclado); Ola Flink (baixo); Dirk Verbeuren (bateria) e o novato Sylvain Coudret (guitarra) - alcançou um resultado que é pra lá de satisfatório, provando de vez que é um grande ás, em meio a tantas ‘pataquadas’ que zanzam por aí.

Aqui estão todos os elementos que já é praxe encontrar no som da banda. Não faltam a intensidade de temas, indiscutivelmente, porradas, como: “Late for the Kill, Early for the Slaughter” e “King of the Threshold”. Riffs e solos eficientes e, claro, não se pode esquecer o apurado bom gosto pelas melodias nos refrãos açucarados como em “The Thrill”, “Let This River Flow” e “Epitome”, que flerta com o já citado peso, criando um equilíbrio. Além disso, devo enfatizar a caótica arte da capa, que ilustra bem o título e o conceito das canções.

O grande barato desse disco foi que a banda não se propôs a revolucionar coisíssima alguma o estilo que pratica e, tampouco, veio com aquele discursinho mixuruca de: “esse é o álbum que vai marcar a história da música pesada” e mais aquele tanto de bla, bla, bla que cansa escutar ou ler. A grande sacada foi: façamos o que de melhor sabemos fazer. E façamos sem ‘bisonhice’. Simples assim! O resultado, inevitavelmente, foi um trabalho honesto e de qualidade. Sem mais delongas, eu recomendo!


*Nota: Realizei essa matéria pelo site Território da Música, no dia 22/07/2010. Segue o link da publicação: www.territoriodamusica.com/resenhas/?c=3392

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Arte no Rock ou Rock na Arte?



O conceito de se manifestar e comunicar com imagens e signos remete aos tempos mais primitivos da humanidade, onde os desenhos em rochas e as simbologias esboçavam, ainda que fosse de uma maneira limitada e precária, a dinâmica de uma comunicação entre os membros da tribo ou agrupamento familiar, de modo que pudessem passar aos seus descendentes um pouco do conhecimento e experiência vivida e sentida até aquele momento. Com o passar dos tempos a tal comunicação por imagens e signos, que antes era limitada, ganhou substancial desenvolvimento, nome (comunicação visual), conceito, estudo aplicado, caráter estratégico e, principalmente, se mantém em constante aperfeiçoamento às mais diferentes dinâmicas da sociedade.

Mas o que isso tem a ver com rock n’roll? Absolutamente tudo! Porque é uma maneira rápida e direta em persuadir o ouvinte a comprar o álbum e traduzir um pouco do conceito e conteúdo lírico da obra. Esse namoro se tornou casamento no final da década de 1960, com o ápice do romance nas décadas de 1970 e 1980, quando a comunicação visual ganhou destaque e merecida pompa entre as bandas da época.

Um dos nomes precursores a pisar no solo sagrado do rock n’ roll com sua arte foi o artista britânico, Peter Blake. Blake, em parceria com o fotógrafo Michael Cooper, deu vida a uma das mais célebres e prestigiadas capas de disco, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (The Beatles). Não podendo ser mais feliz em seu trabalho, Peter viu sua obra se tornar ícone da década 1960, e mais, provou que uma boa idéia consegue passar com sobras pelo implacável teste do tempo. O americano Andy Warhol era outro nome muito bem comentado no final da década de 1960 por suas “esquisitices” visuais. O artista assinou trabalhos de grande expressividade como “The Velvet Underground & Nico” (Velvet Underground); o ao vivo “Love You Live” e “Sticky Fingers” (The Rolling Stones) e “Honi Soit” (John Cale).

O rock “viajandão”, para não dizer sem pé e cabeça, mas ainda assim sublime, de “Weassels Ripped My Flesh” (Frank Zappa), e a virtuose psicodélica progressiva de “In The Court of Crimson King” (King Crimson) não poderiam ficar de fora e tiveram suas músicas embaladas por magníficas artes visuais. Os responsáveis pelas obras foram Neon Park e Barry Godber, respectivamente. Park ainda assinaria capas dos álbuns “Dixie Chicken” e “Waiting For Columbus” (Little Feat). Outro designer gráfico bem querido e disputado pelas bandas de rock é o inglês, Storm Thorgerson. Dentre suas obras o grande destaque é a capa do mega clássico “The Dark Side Of The Moon” (Pink Floyd). Como não bastasse, Storm assinou capas do calibre de “Atom Heart Mother”, “The Division Bell”, “Wish You Were Here”, “Animals” e “Pulse” (Pink Floyd); “In Through The Out Door” e “Houses OF The Holy” (Led Zeppelin); “Peter Gabriel 1” e “3” (Peter Gabriel); “Pieces Of Eight” (Styx); “Skunkworks” (Bruce Dickinson) e “Try Anything Once”, “On Air” e “The Time Machine” (Alan Parsons).

Mark Wilkinson é outro nome venerado pela turma do rock progressivo por suas aventuranças pelo campo do surrealismo e as ácidas salpicadas de humor negro, onde as rígidas ditaduras da lógica e razão são meramente expectadores de última fila, o que agradava em muito público e bandas. Logo algumas de suas boas cartadas ganharam acolhida em “Script For A Jester Tear”, “Misplaced Childhood”, “Fugazi” e “Clutching At Straws” (Marillion); “Suits”, “Internal Exile”, “Sunsets On Empire” e “Raingods With Zippos” (Fish). Até os artistas que tendiam para o lado negro da força – ou da música – encontraram na arte de Wilkinson o par perfeito para seus discos, por exemplo: “Painkiller”, “Metal Works”, “Jugulator”, “Angel Of Retribution” e “Nostradamus” (Judas Priest); “Live At Donington”, “Best Of The B’Sides”, “Eddie’s Archieve” (Iron Maiden); “Mary Jane Single” (Megadeth) e “Prisoners In Paradise” (Europe).

Assim como Wilkinson, Paul Whitehead desafia os traços burocráticos dos desenhos convencionais com seu cáustico surrealismo. Sem limites percorre o espectro do singelo ao repugnante num piscar de olhos. Paul ajudou conceber peças importantes do rock progressivo setentista como “Foxtrot”, “Trespass” e “Nursery Cryme” (Genesis); “Pawn Hearts” (Van Der Graaf Generator) e “Illusion” (Renaissance).

A Suíça é outro país que pode se gabar de ter um artista com obras reconhecidas em boa parte do mundo, o responsável é o excêntrico, Hans Giger. Giger deu pinceladas certeiras nos progressivos “Brain Salad Surgery” (Emerson Lake & Palmer) e “Attahk” (Magma). Alem desses trabalhos na década 1970, Hans mostrou nas seguintes boa performance e esperadas bizarrices em “Hallucinations” (Atrocity); “Heartwork” (Carcass); “Danzig III: How To Gods Kill” (Danzig) e “To Mega Therion” (Celtic Frost).

E não é só o mercado europeu e norte americano que produz bons artistas gráficos, o Brasil é muito bem representado, diga-se, pelo carioca, Gustavo Sazes. O diretor de arte brasileiro já assinou trabalhos de altíssimos níveis, vide “Aqua” (Angra); “Brainsworms Part 1” (Bittencourt Project); “Fragile Equality” (Almah); “Southern Storm” (Krisiun); “The Root Of A Evil” (Arch Enemy); “Days Of Defiance” (Firewind) e “Slaves Of The World” (Old Man’s Child). Por seu bom gosto apurado e técnica, Gustavo está, sem dúvida, entre os melhores profissionais do mercado, e não será nenhum espanto se no futuro próximo for uma das referências mundiais na área de concepção e manipulação de imagens.

De volta à Europa, o austríaco Gottfried Helnwein é mais um ás da comunicação por imagens. Sua trajetória pelas artes começou quando criança depois de receber um carinho de seu pai, um gibi do Pato Donald. Desde então, o desenho e as artes se tornaram tão necessário quanto o oxigênio, para sua existência. Inspirado pelas condições humanas, seus trabalhos têm características perturbadoras e provocativas, sem se esquecer dos traços carregados de depressão e as cores – ou a falta delas – que salienta a ausência de vida nas relações. Na música Helnwein foi responsável por assinar a direção de arte de álbuns como “Blackout” (Scorpions); “Sehnsucht” (Rammstein) e “The Golden Age Of Grotesque” (Marilyn Manson).

Roger Dean e Drew Struzan também ficaram famosos por suas “loucuras” visuais, o primeiro por conceber os clássicos logos das bandas Yes e Asia, bem como, capa de álbuns como: “Close To The Edge”, “Yessongs”, “Tales From Topographic Oceans”, “Relayer” (Yes); “Alpha”, “Astra”, “Then & Now” e “Asia” (Asia); “Never Turn Your Back on a Friend” (Budgie) e “Demons And Wizards”, Sea Of Light e The Magician’s Birthday (Uriah Heep). O segundo por assinar a caótica capa “Sabbath Blood Sabbath” (Black Sabbath) e a debochada “Welcome To My Nightmare” (Alice Cooper). Outros nomes que conquistaram o mundo da música pesada com seus traços foram Derek Riggs, criando o personagem Eddie e as perturbadoras capas para banda Iron maiden; e Edward Repka com seu traço, thrash, trouxe a urgência e a agressividade que os estilos death e thrash metal necessitavam, caindo como uma luva para Megadeth, Death, Sanctuary e Merciless Death.

Com a absoluta certeza o rock n’ roll é muito mais excitante com os inconfundíveis traços desses e de muitos outros artistas, mesmo que esses traços ora incorpore aspectos caóticos ou ora singelos. Portanto, é e sempre será um grande prazer saborear um bom disco de rock, com uma arte visual igualmente apetitosa.