Nessa segunda parte da entrevista com o vocalista, Andre Matos, são abordados temas como o musical Tommy, o qual foi protagonista; a experiência de excursionar com a também Opera rock Avantasia; seu projeto, Virgo, com o produtor/guitarrista Sascha Paeth e novidades sobre seu proximo disco solo. Então, caros leitores, mais uma vez a palavra é do digníssimo Andre Matos.
Em
relação a sua colocação, quais os exemplos, na sua carreira, as coisas foram de
um extremo ao outro?
Andre:
Fireworks (Angra) e Reason (Shaman) foram discos extremos, no sentido de termos
feito aquilo que queríamos naquele momento e não o que esperavam de nós, com
isso a receptividade não foi a mesma dos discos anteriores. Por outro lado o Symfonia,
onde eu compus com o Timo Tollki, eu o considero um disco bom, mas vejo que não
inova. O álbum segue o power metal europeu, nórdico, com tudo muito reto e
preciso.
Verdade!
O som é bem quadrado e com forte referência à carreira do Stratovarius antigo.
Andre:
Eu sempre deixei claro: nós não estávamos tentando reinventar o estilo, apenas
pegar o melhor de cada um e colocar num álbum.
Só
de gravar com o Uli Kusch deve ter sido uma experiência em tanto, não é?
Andre:
Poxa, cara! Trabalhar com o Uli foi fantástico. Eu sabia da história dele com o
Helloween e Masterplan, mas não sabia do extremo bom gosto para os arranjos e
som da bateria, e mais, gravou tudo em dois dias.
Selecionei
três momentos da sua carreira e gostaria que você comentasse sobre, ok? 1º
Angra – Angels Cry; 2 º show do Shaman e convidados, em São Paulo, que sucedeu
o disco RituaLive e 3º o álbum Time to be Free.
Andre:
Angels Cry foi um sacrifício para ser realizado e foi a primeira vez que nós
gravamos fora do Brasil. Nós ficamos literalmente exilados durante meses na
Alemanha gravando o álbum, mas em contrapartida tivemos oportunidade de conhecer
pessoas incríveis como Kai Hansen, sendo no estúdio dele as gravações do disco;
Sascha Paeth, que virou um amigo e parceiro para vida e o Charlie Bauerfeind,
que era o produtor na época. Mas não foi fácil o processo de superação, sendo
assim um álbum difícil de terminar. O material estava todo na mão, porém vimos,
realmente, a realidade de trabalhar com os gringos, com isso constatar o quão era
diferente a forma que trabalhávamos aqui no Brasil.
O show do Shaman, RituaLive,
foi quase que um milagre, porque tínhamos uma única chance para fazer
aquilo, e lógico, tinha que dar certo. Acertamos no repertório; convidados; local
do show; cenário e equipe; etc. Eu considero, sem falsa modéstia, que é o
melhor DVD já lançado por uma banda nacional no segmento heavy metal tanto em
termos de produção quanto finalização. O Time to be Free é mais um momento de
superação e desapego, afinal, eu estava me responsabilizando por algo, que para
mim era muito temeroso, dar minha cara a bater.
Você
chegou hesitar?
Andre:
Claro! Eu sair com uma banda com o nome Andre Matos? Eu nunca pensei em fazer
isso, tampouco, pensei ser um tipo de Ozzy Osbourne. As responsabilidades nas
minhas costas quadruplicaram, na verdade. Mas eu nunca quis um enfoque
autocrático à banda, sempre quis deixar muito aberto para que a todos participasse,
opinassem e compusesse, a fim de ser e ter, realmente, o espírito de banda.
Sob
uma perspectiva educacional você foi um profissional cuidadoso, lapidando-se a
cada passo dado na carreira. E esse cuidado, lógico, lhe gabaritou com vários
títulos, entre eles Regente. Por seu currículo, você foi escolhido a participar
da peça teatral Tommy – uma encenação da Opera Rock da banda, The Who. Qual foi
a sensação de estar num palco estrelando uma das mais conhecidas, e por que
não, maior Opera Rock já escrita?
Andre:
Esse foi o ápice da minha carreira até hoje, e com certeza fora a coisa mais empolgante
que eu já fiz. Ser o protagonista de um musical, cuja música é absolutamente
incrível é, com certeza, marcante. O fato de estar com uma orquestra; coral;
num auditório impecável e com todo aparato de opera, foi uma experiência
sensacional, a qual nunca tinha tido na minha carreira.
Como
foi sua entrada para a peça?
Andre:
O bacana que ninguém me conhecia! Quando cheguei para fazer o teste tinha mais
de trinta pessoas querendo ser o Tommy, e eu não sabia que tinha que levar
um acompanhante para fazer o playback no piano, e me perguntaram: ‘onde está o
seu acompanhante?’ Respondi que não tinha e faria o canto à capela para a banca
de jurados. Nessa banca havia professores de técnica vocal; diretores de
teatro; a maestrina, que regeu a orquestra; diretor da secretaria de cultura,
ou seja, era um negócio que botava medo. Eu me lembro da pergunta que me
fizeram: ‘Só o papel principal que lhe interessa ou você faria algum outro?’. Comentei
que só faria sentido para mim o papel principal, porque esse, sim, seria um
grande desafio, e uma semana depois recebi um telefonema da maestrina Mônica
dizendo que eu tinha sido o escolhido.
Alguém
do elenco ti reconheceu?
Andre:
Durante os ensaios, no meio do pessoal do coral, tinha uma garotada que me
reconheceu. Os maestros e diretores falaram: ‘Espera um minuto, como eles ti
conhecem?’ Eu expliquei, e assim ficaram sabendo da minha carreira, mas já passava
quase um mês do decorrer dos ensaios da peça.
Foram
quantos concertos?
Andre:
Foram três shows, sold out! Cada noite ficava quase quinhentas pessoas para fora
do teatro sem poder assistir. E, com certeza, eu adoraria repetir isso!
E
por falar em Opera Rock, você participa do projeto, Avantasia, que em muito se
assemelha a uma Opera Rock. Como foi excursionar com esse projeto e estar no
palco com tantas vozes, onde, por incrível que pareça, há espaço para todos
brilharem?
Andre:
Foi também uma experiência maravilhosa, porque foi uma turnê mundial por quatro
continentes, tocando em lugares incríveis aonde eu nunca tinha estado como a
Rússia. Quanto ao nosso relacionamento: o clima era de pura interação e
amizade, com diversão a cada noite. E eu sou amigo de longa data de todos, então,
excursionar pelo mundo com aqueles caras foi algo memorável. Digo mais. Foi a
primeira vez que eu tive o gostinho de excursionar como headliner de todos os
principais festivais do mundo, ou seja, o tratamento nos concedido foi, realmente,
vip.
Os
fãs já pediam essa turnê há tempos...
Andre:
Pois é! Mas demorou quase dez anos para o Avantasia ir para estrada. E foi o
Sascha Paeth quem convenceu Tobias a levar o projeto aos palcos.
O
projeto Virgo, também com o produtor Sascha Paeth, é longe da jurisdição do
heavy metal, mas é de uma qualidade invejável por muitos músicos. Há chances de
o projeto Virgo contemplar, mais uma vez, a luz do Sol?
Andre:
Não rolou um segundo disco, porque, tanto eu quanto o Sascha, andamos ocupados
com outras coisas. Além disso, alguém precisa se interessar em lançar o álbum,
pois o mercado fonográfico mudou muito desde aquela época até os dias de hoje e
o disco necessita de viabilidade para ser lançado.
Mesmo
sendo um som acessível, onde há potencial de atingir o público fora do heavy
metal?
Andre:
O Virgo foi trabalhado de maneira errada, sendo colocado somente para os fãs de
heavy metal, enquanto ele poderia transcender isso. O disco é, sim,
interessante para o público de metal, onde mostra um lado “B” nosso, porque o
som é focado num rock mainstream com influências de Journey, Queen e coisas
desses tipos, mas, lógico, sem querer soar uma cópia ou pretensioso. O disco
tem influências de blues e pop também, e trazemos para o conceito ares ‘vintage’.
Sobre
o seu próximo disco de estúdio, o que você pode adiantar para nós?
Andre:
Posso adiantar que as músicas estão em fase final de composição e o álbum é um
equilíbrio entre os discos Time to be Free e Mentalize. Nós conseguimos chegar
numa fórmula, talvez, espontânea de aproveitar o melhor de cada fase da banda,
sem perder a essência e a identidade, mas, ao mesmo tempo, dando liberdade para
criatividade que quisermos ter com músicas fortes e marcantes.
E
as turnês? Vocês não conseguirão pegar os festivais de verão europeus.
Andre:
A partir de Setembro já caímos na estrada. Mas esse período de lançamento não é
bom para os festivais europeus, mas tem rolado alguns festivais de inverno,
entre os meses de Novembro e Dezembro, por exemplo: Master of Rock, na
Republica Tcheca Talvez participemos de alguns desses festivais.
Muito
se especula, e já virou quase crendice no meio heavy metal, que você foi um dos
finalistas a integrar o Iron Maiden. O
que de fato aconteceu? Se houve algum contato seu com os britânicos, como foi o
desenrolar da história nos bastidores?
Andre:
Quando o Bruce saiu do Iron Maiden, em 1992, a gravadora EMI, através dos
representantes aqui no Brasil, começou procurar eventuais substitutos aqui no
país. Na época, eu tinha recém saído do Viper e não tinha gravado o primeiro álbum
do Angra, apenas uma demo, e isso foi um baque para banda, porque havia,
segundo eles, a grande chance de eu ser escolhido, o que interromperia
completamente os planos da gravação do primeiro disco, então, o material mandado
para o pessoal do Maiden foram os dois discos do Viper e a demo do primeiro
disco do Angra.
Eu, particularmente,
nunca viajei na história de que eu fosse o escolhido, porque o Iron Maiden é
uma banda demasiadamente britânica para que escolhessem um brasileiro para
cantar, então, já não tinha grandes planos em relação, então, foi natural que
escolhessem o Blaze. O interessante que anos mais tarde, quando me aproximei
mais do pessoal do Iron, nós estávamos na gravação do álbum, Fireworks, na
Inglaterra, em 1998, eu fui ao show deles como convidado, e tive a oportunidade
de conversar melhor com Rod Smallwood (empresário da banda Iron Maiden), quando
ele comentou: ‘você foi um dos três finalistas. E você ainda continua cantando
muito bem’.
O
Angra dividiu o palco com o Bruce Dickinson, na turnê do Fireworks, não foi?
Andre:
O Angra estava em alta na França, com isso, conseguimos fazer um show gigantesco
no Zenith, de Paris, com mais de cinco mil pessoas. Convidamos o Bruce, que foi
da Inglaterra à França pilotando seu próprio avião, só para nosso show. Foi
maravilhoso porque ele é um dos caras que me inspiraram. Graça a Deus eu tive
oportunidade de encontrar todos os meus ídolos pessoalmente, como: Rob Halford,
Dio, Eric Adams, e todos foram tão gentis que foi a grande lição que
aprendi.
Há
pouco tempo houve o fatídico festival Metal Open Air, onde você estava cotado
como uma das atrações, e como a maioria sabe: o festival foi um desfile de
erros e decisões mal tomadas e com mais tantas doses de
irresponsabilidades. Não como uma
situação isolada, mas em todo contexto. O que falta para o Brasil ter festivais
de heavy metal, comprometidos com público e artistas, como vemos na gringa?
Andre:
No Metal Open Air, nós queríamos tocar em respeito ao público, mesmo sem
receber cachê, mas quando chegamos ao aeroporto faltava metade das passagens de
ida e não havia nenhuma de volta, ou seja, ficamos, totalmente, sem condições
logísticas para fazer nosso trabalho. Eu acredito que houve boas intenções, no
início do projeto, de fazer um grande festival, mas por uma questão de
ineficácia e de dar um salto maior que as pernas, que as coisas tenham se
complicado. Eu, particularmente, acredito que ninguém agiu de má fé, mas rolaram
os problemas e não souberam agir com o profissionalismo necessário. No final de
contas resultou num grande desrespeito com o público e bandas, obviamente. E
cabe, agora, a justiça analisar e julgar quem é culpado pelo o quê.
Esse
ano você comemora vinte cinco anos de carreira. Nesses anos tenho certeza que
estão contidas todas às sortes de emoções. Mas o que você falaria ao garoto
Andre Matos de vinte cinco anos atrás?
Andre:
Você deveria ser engenheiro (risos). Na verdade há muitas que eu gostaria de
ter sido, por exemplo, um médico. Adoro a medicina e sou um pouco hipocondríaco.
Mas eu cumpri minha sina, sou músico e sou muito feliz por isso.
Obrigado
pela entrevista, gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Andre:
Agradeço a oportunidade de falar mais uma vez com vocês; agradeço o apoio
durante todos esses anos, e o que depender de mim: eu continuarei firme e forte
levando minha carreira adiante. Obrigado!
Nota: Obrigado a SNS Produções pelo credenciamento e feitura dessa matéria.