A 18ª edição do festival
mineiro, Roça n’ Roll, ocorrida no último sábado, (28), pode ser fácil,
fácil, resumida com adjetivos que transitam pelo aspecto técnico como
profissionalismo e competência a atributos que sugerem uma percepção
mais emocional como diversão, alegria e farra – e da boa, diga-se –, mas
que, juntos, sintetizam o sentimento do público que compareceu à
festança na Fazenda Estrela.
O festival, dividido em dois palcos principais: Sete Orelhas e Tira
Couro e com o suporte da Tenda Combate, que ajudou dar vazão ao grande
número de bandas
escaladas, trouxe um ‘cast’ formado em sua quase totalidade por bandas
brasileiras, o que serviu, mais uma vez, de prova que o Brasil está e é
bem servido de bons representantes nos mais variados estilos de
metal/rock.
O som
gótico dos cariocas do “Lyria” teve a responsabilidade de estrear o
palco Tira Couro, provando que é questão de tempo para voos mais altos,
visto a qualidade do grupo. Com eficiente troca e dinâmica de palcos, o
que favoreceu o procedimento do festival sem atrasos e ou imprevistos, o
‘thrashers’ do “Deadliness” marcaram presença com um repertório conciso
e eficiente, ostentando todos os bem-vindos trejeitos do consagrado
thrash metal como velocidade, solos virtuosos e muito peso.
Os paulistas do “Barbaria”, com suas indumentárias piratas, produziram uma ótima apresentação
pautada por canções que remetem à união dos cânticos dos desbravadores
dos sete mares aos baluartes do metal germânico como “Running Wild” e
“Grave Digger”. O quarteto belo-horizontino, “Concreto”, colaborou com a
dinâmica do festival ao trazer seu benquisto hard rock ao caldeirão de
influência do Roça. E por falar em caldeirão de influência, os
paulistanos do “Mythological Cold Towers” marcaram presença com seu
soturno e gélido doom metal, o que favoreceu ao já citado pluralismo
musical que contempla o festival.
É clara a ingerência de nomes como “Pantera” e “Sepultura” no thrash metal da banda
“Maverick”, no entanto, não pense que os caras são meras cópias, pois
não os são, já que souberam lapidar sua música de maneira única, criando
assim sua identidade. A veterana “Holocausto” é brutal e se beneficia
de tal adjetivo, onde a desgraceira de suas canções ganha eco no público
que se amontoava a frente do palco para presenciar tal caos sonoro.
Se a ideia era abrir os portões do inferno e trazer as almas do
mundos dos mortos, então a trilha sonora foi mais que acertada com o
massacre sonoro, que também atende pela alcunha de “Torture Squad”,
visto que a banda trouxe um repertório afiado e uma performance matadora
da ‘nova integrante’, a vocalista Mayara Puertas, e do consagrado
baterista, Amilcar Christófaro.
O punk rock de “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos” é crítico,
ácido e energético, o que corroborou para uma das mais festejadas
apresentações da noite. A única representante internacional da ótima
festança roceira foi a banda finlandesa, “Amorphis”, que trouxe o
suprassumo de sua carreira e de seu mais recente registro de estúdio, o
disco “Under the Red Cloud”. Canções como a homônima ao novo álbum,
“Sacrifice”, “Bad Blood” e “Silver Bride” garantiram o sucesso nesta
terceira passagem do grupo em território brasileiro.
Nem o frio congelante que fazia na Fazenda Estrela conseguiu empalidecer
a ótima apresentação da banda “Noturnall”, que esbanjou técnica apurada
em um repertório curto, porém de grande intensidade e pujança, com
canções como: “Zombies”, “Fake Healers” e o cover da banda “Angra”,
“Nova Era”. Os donos da casa, o “Tuatha de Danann”, deram o ar da graça
com seu folk metal, pontuando, como de costume, seu show com extrema
simpatia, farra e canções do teor de “We’re Back”, “Rhymes Against
Humanity”, “Tir Nan Og” e “Finganforn” sendo cantadas uníssono pelo
público.
O “Cracker Blues” tem o traquejo e manha que apenas as bandas com
anos e anos de estrada têm, mas o que isso quer dizer? Performance
brilhante, letras sarcásticas e inteligentes e um instrumental soberbo
capaz de extrair o restante de energia remanescente do público. E, para
finalizar a comemoração de dezoito anos do Roça n’ Roll, coube à banda
carioca, “Hatefulmurder”, com seu visceral e intenso thrash/death metal,
sacramentar a ode ao metal em suas mais diferentes personificações.
A maioridade do festival Roça ‘n Roll não se dá apenas pela
contabilidade dos anos de existência, mas, sim, pelo amadurecimento que o
festival tem passado em todo esse tempo. É de grande prazer para o
público e artista perceber que a qualidade, responsabilidade e
profissionalismo são alguns dos pilares de sustentação do festival, o
que corrobora em afirmar que o Roça n’ Roll é um dos mais celebrados e
festejados festivais do Brasil.
Fonte: RockBizz
Foto: Livia Teles