domingo, 23 de outubro de 2011

Blind Guardian: Live, Loud & Magic


No meio artístico existem pouquíssimas certezas ou verdades absolutas, ás vezes o que fora ‘projetado’ para reluzir como ouro ou o que segue alguma formula mirabolante de sucesso é o que irá encalhar nas prateleiras das lojas, garantindo a insônia e o ranger de dentes dos empresários de plantão. No mundo rock/metal essa afirmação é uma meia verdade, há bandas que são tão bem formatadas que as chances de suas estruturas serem abaladas são quase nulas. Nesse pelotão estão os alemães do Blind Guardian com seu power metal e seus discos pra lá de influenciados por contos medievais e obras do escritor J. R. Tolkien.

Com essa mesma certeza formos conferir a mais uma boa apresentação dos bardos alemães, no dia 04/09, Fundição Progresso/RJ, divulgando o interessante álbum, At the Edge of Time. Como fazia um tempo que a banda não dava as caras por aqui, os músicos prepararam um repertório especial cobrindo boa parte de seu catálogo. “Sacred Worlds” é um dos ótimos momentos do novo disco, sendo assim, a escolha foi bem acertada para começar a celebração aos guerreiros vikings. Uma pequena pausa para o sempre gentil e comunicativo vocalista, Hansi Kürsch, dar as boas vindas, e em seguida anunciar a pesada “Welcome to Dying”.

Vale comentar que além do conteúdo lírico baseado em contos e mitologias, o Blind Guardian sempre se valeu de uma ótima fonte de inspiração que são as obras da banda setentista, Uriah Heep. As harmonias vocais com extensão de cinco ou mais vozes ao vivo sempre foram uma carta na manga dos britânicos do Heep, e nessa fonte é certeza que o Blind Guardian se esbaldou até a última gota.

O álbum Imaginations From the Other Side veio representado pela canção homônima ao disco e a ótima “Mordred’s Song”. Desnecessário acrescentar que foram um dos pontos altos do show, assim como é chover no molhado enfatizar o poder que músicas como “Time Stands Still (At the Iron Hill)”; “Lord of the Rings”; Mirror Mirror; The Bard’s Song (In the Forest) têm no setlist da banda. Até as novatas “Tanelorn (Into the Void)” e Fly contribuíram para o bom saldo da noite. O público carioca desempenhou tão bem seu papel cantando e agitando, a cada canção, que foi presenteado com a não programada, “Majesty”. E com a certeza de mais uma vez o trabalho ter sido feito com extrema qualidade, os bardos alemães se despedem do público carioca prometendo voltar o quanto antes.


Nota: Realizei a matéria para o Jornal do Interior Sul Fluminense. http://digital.jornaldointerior.info/ed122/

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Rock in Rio 2011: um balanço do festival


Depois de dez anos fazendo biquinho ao público brasileiro, e como todo bom filho a casa retorna, o festival, que hoje se gaba de ser intercontinental, Rock in Rio foi oficializado novamente no município do Rio de Janeiro. Como todo bom projeto, as variáveis e os desafios de tirar do papel aquele que já foi um sonho - todavia, hoje se conforta sendo mais do que uma real conquista - não estavam listadas no hall das tarefas mais simples. Afinal, não é só armar uma tendinha com som meia-boca e duas garrafas de cerveja quente e, voilá!, está pronto o festival. A coisa é mais embaixo, amigo. Eventos desse porte requerem estudos elaborados, planejamentos, estratégias para as mais diferentes situações, que vão desde o transporte público à hora que você, camarada, for fazer seu xixi nas dependências do festival. Enfim, são muitas as variáveis e muito trabalho duro para fazer a festa acontecer.

Economia
Como foi oficializado há bom tempo antes de todo arrasta pé acontecer, organizadores e produtores, aliado ao poder público do Estado, fizeram o dever de casa, tentando diminuir a zero todos os problemas que eram certos de acontecer, quando as engrenagens do festival começassem a rodar. Escalado para o mês de setembro e começo de outubro, onde o setor hoteleiro do município do Rio fica quase às moscas, o Rock in Rio veio com a ‘responsa’ de suprir essa lacuna, além disso, alavancar a economia do Estado que não está lá essas coisas e, lógico, entreter o público.

Pelo o que foi apurado até o momento, segundo nota apresentada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o festival foi mais que benigno à economia carioca, estimando a injeção de um número superior a quatrocentos milhões de dólares à economia do estado. E que contou também com uma taxa de ocupação média de 98% do sistema hoteleiro, segundo levantamento realizado pela ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) a pedido da Riotur.

Sem dúvida são estatísticas a serem comemoradas, mas ainda é um olhar pequeno, talvez até romântico, perto dos problemas sentidos na pele pelas centenas de pessoas que visitaram a Cidade do Rock, e, sem dúvida, pela grande parcela de cidadãos que queria na melhor das hipóteses prestigiar o festival de bem longe - de preferência no aconchego do lar -, mas, infelizmente, se viram no meio do furacão. E esse furacão veio na forma de grandes congestionamentos; policiamento pouco informado e menos ainda educado; transporte público insuficiente diante do volume de pessoas, o que foi prato cheio ao transporte irregular com preços que atravessavam, fácil, fácil, a estratosfera. E a cereja desse indigesto bolo foram os gatunos de plantão que se aproveitaram da ocasião e fizeram sua festinha, digamos, particular.

Isso dá uma breve noção do quanto o governo do Estado do Rio de Janeiro - isso se aplica para os outros Estados também - precisa investir em infra-estrutura. Se o país está imbuído da idéia de deixar de ser colônia investindo na área cultural. O que é excelente e já passou mais que da hora. Ações enérgicas devem ser tomadas para ontem, anteontem... E se os jogos Olímpicos e Copa do Mundo estão “certos” de terem o Brasil como sede é mais que necessário os Estados, aliados ao poder Federal, se debruçarem sobre os projetos com total entrega. A melhora das infra-estruturas dos municípios é uma necessidade que não pode ser deixada para qualquer dia ou para o dia que pintar vontade, a menos que a pretensão do poder público seja retroceder na corrida pelo desenvolvimento, onde o Brasil não é o lanterna, mas, tampouco, deixou de ser retardatário.


Rock in Rio
O ano de 1985 pode ser considerado decisivo para a composição da história do Brasil. Algum desinformado olharia com desdém e perguntaria por que. A resposta mais simples e direta seria o processo que o país atravessava com a redemocratização. Junto a isso, e até alicerçando esse processo, o festival Rock in Rio foi decisivo em carimbar o país como rota dos grandes concertos internacionais. O Brasil já tinha sentido gostinho de hospedar apresentações internacionais como Genesis, Alice Cooper Group, Carlos Santana, Queen, Van Halen, Kiss, etc. Mas era algo que acontecia uma vez na vida e outra na morte, como é expresso no ditado popular, tendo em vista a tamanha carência do povo em relação a shows internacionais, e se bobear à cultura em geral.
Filho do produtor carioca Abraão Medina - idealizador das noites de gala, paradas de Natal - o publicitário Roberto Medina trouxe o conceito de festival musical de grande porte ao país, algo até então inédito, levando em conta a infra-estrutura que a festa demandou e a quantidade de pessoas que o evento comportava e atingia direta e indiretamente. Não adianta uma ou outra viúva chorona bater o pé dizendo que o Brasil tinha esse ou aquele festival. É fato que as coisas começaram ganhar moldes profissionais - ou se preferir, começou a melhorar - com o Rock in Rio 1.

Na primeira edição do festival, entre os dias 11 e 20 de Janeiro de 1985, dispôs, como ressaltado anteriormente, de uma infra-estrutura inédita aos parâmetros brasileiros até aquele momento, com shoppings, lojas de fast-foods, centros médicos, etc, o que, junto às atrações da festa, foi algo determinante ao alcance do sucesso. Se o primeiro festival foi para abrir os caminhos do Brasil aos grandes shows, a segunda edição, no ano de 1991, veio numa versão mais reduzida realizada no Estádio do Maracanã com a bandeira de enaltecer o Brasil no circuito mundial dos principais shows. As edições de 2001 e 2011, com o país mais que consolidado na rota dos principais artistas, o Rock in Rio teve o trabalho de administrar o jogo ganho e não cometer nenhuma insensatez.

Não chega ser insensatez ou um ultraje, mas as bolas chutadas acima do gol na atual edição do festival ficaram por conta das cansativas filas para alimentação; a má comunicação do festival em veicular em seu site oficial a informação que era proibida a entrada de qualquer tipo de alimento, quando na realidade não era - o mal entendido foi desfeito para segunda semana do festival; os banheiros, pelo menos o masculino, não comportaram o volume de xixi da moçada, entupindo, e para piorar, com inúmeras poças se formando pela área do banheiro, era quase como pisar num terreno minado; o fraco policiamento dentro da área do festival, o que possibilitou um número elevado de furtos na primeira semana de shows e, por fim, os preços de alimentos e bebidas um pouco acima da realidade econômica do país.

Artistas
Comentei que o banheiro masculino parecia campo minado, certo? Mas campo minado mesmo, caro leitor, é meter o bedelho no delicado assunto: cast do festival. Mas o bom é cutucar a fera com vara curta. O assunto é cheio de nove horas por um erro de interpretação, o festival se chama Rock in Rio, sendo essa sua marca, e não deve ser veiculado diretamente ao estilo. Parece bobagem comentar sobre isso, entretanto, há uma parcela de pessoas que não entendem, ou se fazem de desentendidas, o que é o estopim para a guerra começar onde as afiadas armas são as palavras.

Desde sua primeira edição o festival acobertou atrações fora da “jurisdição” do estilo rock ‘n roll, artistas como George Benson, James Taylor, Ivan Lins, Gilberto Gil, The Go-Go’s e B’52’s destoam do pessoal que é mais chegado no peso das guitarras. O mesmo conceito estava presente na segunda edição do festival, prova disso fora as escalações de grupos/artistas como A-Ha, Information Society, Debbie Gibson, Jimmy Cliff e Colin Hay. As outras duas edições seguiram o roteiro. E novamente a mesma indagação sobre as atrações em comparação direta ao nome do festival aconteceu, com alguns radicais fazendo birra porque atrações como Katy Perry, Ke$ha, Ivete Sangalo, etc, fizeram parte do cast do festival.

Cabe a uma boba, mas válida analogia a restaurante: ninguém é obrigado comer o que não quer ou o que não gosta, ou seja, cada pessoa analisa o cardápio e julga o melhor para si. Em festivais de música cabe a mesma ideia e analise: consuma aquilo que for do seu agrado. Simples assim. E a melhor parte é que todo mundo se diverte sem precisar pisar num terreno que não fale sua língua.

O bacana que a festa voltou para seu endereço de origem, e é muito bem vindo, diga-se. Afinal, foi com o pontapé dado pelo festival que o Brasil começou a ser enxergado na área do entretenimento pelo pessoal gringo. Então, que venha outras edições do festival alicerçado em uma infra-estrutura ainda melhor e com menu recheado de rock, metal, pop, blues...

Nota: Fiz essa matéria para o site Território da Música: http://www.territoriodamusica.com/rockinrio/?c=27138