quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Marillion: Vivo Rio - Rio de Janeiro


Ao pensar nos grandes grupos de rock progressivo automaticamente a memória projeta a imagem de baluartes britânicos dos anos 1970 como: Yes, Emerson Lake & Palmer, Genesis, Pink Floyd e Jethro Tull, onde cada qual dava vida a sua arte partindo de influências diversas como a complexa música clássica, o egocentrismo do Jazz e o despojamento do Blues.

Alguns mais audaciosos que outros iam além, buscando influências nas atividades circenses e teatrais. Mas o que todos, sem exceção, compartilhavam entre si era o bom gosto em criar música, que, hoje, se gabam de ter passado pelo implacável teste do tempo.

Na década seguinte, com o mercado menos receptível ao estilo, poucos foram os nomes em destaque no cenário progressivo, sendo o maior deles o também britânico, Marillion.

Desde seu primeiro registro de estúdio, “Script for a Jester’s Tear”, de 1983, a banda já despontava como uma das maiores promessas do rock progressivo. No final da década de 1980, em uma decisão ousada e precisa, o grupo muda sua voz saindo o cênico Fish entrando o até então desconhecido Steve Hogarth (How We Live e Europeans). O que poderia se transformar em uma tragédia grega acabou saindo melhor que encomenda. Com Steve nos vocais, a banda debutou em grande estilo com o aclamado “Season’s End”, de 1989. De lá para cá o grupo alternou momentos de pura magnificência e outros de gosto duvidosos.

Com turnês por todo mundo, o público brasileiro teve a oportunidade de assisti-los em duas ocasiões: Hollywood Rock (1990) e quando da divulgação do álbum “This Strange Engine”, em 1997. Desde então, os brasileiros amargaram um castigo que só veio ter o seu ponto final nos últimos dias 11 (São Paulo), 13 (Rio de Janeiro) e 14 (Porto Alegre).

A noite na capital fluminense começou com os cariocas do Anxtron e seu progressivo instrumental que se vale das ambientações, o dinamismo das composições e a qualidade individual de seus integrantes. Os caras são audaciosos apostando alto num mercado tão segmentado que é o da música progressiva, com o agravante de não ter um vocalista. Se isso vai virar razão de sucesso ou de uma corda no pescoço só o tempo dirá, mas pelo apresentado até aqui as expectativas são animadoras.

Chegada a hora que todos esperavam, é sob os acordes de “Splintering Heart” que o Marillion quebra o jejum de 15 anos longe dos palcos cariocas. De imediato já dava para se ter ideia de que a noite seria para lá de especial, com um show de ambas as partes: público e banda.

“Slainte Mhath” vem rememorar o álbum Clutching at Straws, tirando o fôlego dos presentes com seu peculiar peso. Com a educação de um lorde inglês e boas doses de bom humor, Steve Hogarth faz as honras da casa, apresentando a próxima canção, “You’re Gone”, que não tem o menor trabalho em manter a excitação do público. “Essa é uma música que lançamos na semana passada ou retrasada, algo assim”, disse o vocalista. “Sounds That Can’t Be Made” é homônima ao novo disco e, mais uma vez, agrada pelas suas nuanças e elegância que é tão peculiar à carreira da banda. A radiofônica “Beautiful” teve cada verso cantado em uníssono, fato que deixou os músicos visivelmente emocionados.

O Marillion é um dos poucos grupos que conseguem caminhar na tênue linha do pop e progressivo, pois agregam à sua música melodias de fácil degustação, regidos por uma qualidade pouco encontrada no mercado. E mesmo temas que requerem certa complexidade conseguem chegar aos ouvidos de uma maneira suave e receptiva, fugindo do malabarismo instrumental que alguns desavisados insistem impor ao público.

“Power” dá contornos ao novo disco e vem provar que criatividade é algo inesgotável em se tratando Marillion. Nessa altura do show Steve Horgarth (vocal), Steve Rothery (guitarra), Mark Kelly (teclados), Pete Trewavas (baixo) e Ian Mosley (bateria) tinham mais do que o controle da apresentação, não precisavam lançar mão dos grandes clássicos, afinal, o público carioca estava mais do que entregue às melodias e canções da banda. Ignorando esse fato, o maior hit dos britânicos, “Kayleigh”, prova que música boa passa pela prova do tempo, e essa música, caro leitor, vai sempre ter lugar cativo na memória do público.

O clima era tão intimista que os músicos pareciam tocar para os amigos mais próximos e acabou proporcionando um dos melhores momentos da noite. Sob os apelos e versos cantados numa só voz, os músicos fogem do protocolo e sacam a não planejada “Lavender”. Desnecessário comentar a reação efusiva do público a cada verso e melodia da canção. Tentaram, por duas vezes, tocar a canção “The Sky Above the Rain”, mas o baixo de Pete e o teclado de Mark não colaboraram, o que acabou rendendo boas risadas por parte da banda e público.

Sem problemas, afinal, a substituta foi um clássico do teor de “The Great Escape”. Ainda teve tempo para “Afraid of Sunlight”, encerrando o set com uma das melhores canções da era Hogarth, “Neverland. Soberbo o poder de interpretação do vocalista.

Sob pedidos incessantes do público, a banda volta para o encore com a complexa “The Invisible Man”. Mais uma vez a platéia presencia rara interpretação de uma banda para com sua obra. “Easter” é mais do que bem recebida, o que é algo corriqueiro em tratando dessa canção. A noite fecha com “Sugar Mice” que ficou irrepreensível na voz de Steve.

Depois de duas horas de show, que passaram como num piscar de olhos, o Marillion entrega ao público carioca um show memorável que fez valer os 15 anos de espera. A banda é uma das últimas representantes do rock progressivo britânico - se não for a única - que mantém uma carreira ativa, celebrando o momento presente com obras tão boas quanto as do passado. Acredite, amigo, isso é para quem pode e não para quem quer. E esses britânicos podem, e muito.

Nota: Realizei a matéria pelo site Territorio da Música http://www.territoriodamusica.com/shows/?c=1235

domingo, 7 de outubro de 2012

Epica: Requiem for the Indifferent Tour



Que o Brasil já virou rota obrigatória de artistas internacionais já não resta dúvida, afinal, bate à porta dos brasileiros as mais diversas bandas dos mais diversos gêneros, restando ao público à tarefa árdua de escolher qual espetáculo prestigiar. E parece que para o público carioca não fora difícil optar, no último sábado, dia 29/09, pelo concerto dos holandeses do Epica, porque o que se viu foi um público significativo na Fundição Progresso a fim de celebrar a música e os dez anos de história da banda. 

Divulgando o mais recente álbum, Requiem for the Indifferent, a banda se apóia, mais uma vez, em um trabalho que prima pela beleza das canções alicerçadas pela qualidade ímpar de seus integrantes. Depois do prelúdio, “Karma”, os trabalhos começam com a pesada “Monopoly on Truth” e, assim mesmo, sem direito a respiro, a já clássica “Sensorium” vem rememorar o porquê de a banda ter sido taxada como uma grande promessa quando do lançamento do álbum, The Phantom Agony. 

Ovacionada pela platéia, a belíssima frontwoman, Simone Simons, faz as honras da casa com a simpatia que lhe é peculiar e sem deixar perder o clima de festa já instaurado na casa logo apresenta a animada “Unleashed”. “Martyr of the Free Word” é a prova da maturidade da banda alcançada com os novos integrantes Isaac Delahaye (guitarra) e Ariën van Weesenbeek (bateria) – completa a banda Mark Jansen (guitarra e vocal); Coen Janssen (teclado); Rob Van Der Loo (baixo) e a já citada Simone Simons (vocal) – e do quanto o processo de substituição de integrantes pode vislumbrar novas oportunidades de caminhos a serem explorados pelos músicos.

São exatos dois anos desde a última passagem da banda Epica pela capital fluminense, sendo essa a terceira vez em que os holandeses prestigiam o público carioca com sua arte. Vale ressaltar que a banda vem vindo sempre numa crescente de público, e o mais importante, os músicos vêem numa crescente de qualidade em suas apresentações que não seria exagero nomeá-los como a principal banda de symphonic metal hoje no mercado. E é bacana ressaltar que a banda se sustenta na consistência de suas canções, não se valendo, exclusivamente, da imagem de sua vocalista, o que seria mais óbvio e, sem dúvida, a pior decisão a ser tomada pela banda. 


A intimista “Delirium”, a complexa “Serenade of Self-Destruction” e o single Storm the Sorrow trazem à tona o álbum Requiem for Indifferent; e vamos para mais uma breve viagem ao tempo com “The Obsessive Devotion” e “Sancta Terra”, representando o disco The Divine Conspiracy, sendo ambas amparadas pelo entusiasmo do público; o primeiro registro de estúdio dos holandeses volta estampado nas queridinhas do público “Cry for the Moon” e “The Phantom Agony”; e não pense que disco Consign to Oblivion ficou de fora da festa, pois do álbum vieram temas como “Blank Infinity”, “Quietus” com direito a participação do fã mais animado da noite, segundo o guitarrista Mark Jansen, e a clássica homônima ao disco. 


Como dito anteriormente, o Epica é uma banda que vem ganhando terreno a cada disco lançado e turnê, pontuando sua obra pela qualidade de seus integrantes, e o principal, vem transformando seu show numa celebração entre público e banda. Talvez seja um exagero ou até mesmo uma irresponsabilidade afirmar que se trata de umas das maiores representantes da nova safra do heavy metal. Se for ou não se firmar como tal só o tempo dirá, mas que a banda tem todos os trejeitos para tal não é segredo para ninguém. Mas é fato que a banda está com a faca e o queijo na mão para beliscar tal posto, disso não resta à menor dúvida.