terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Marillion: A medida certa entre o Progressivo e o Pop



A banda britânica Marillion é o que podemos chamar de feliz em sua longa e prolífica carreira, afinal, sua longevidade se deu pelas produções dentro do estúdio; qualidade de suas apresentações ao vivo, expondo da melhor forma possível o resultado alcançado nos estúdios de gravação e uma pela relação íntima, honesta e direta com a base de fãs. Nessas linhas pode parecer algo fácil e simples de se atingir, mas na hora do vamos ver, ou melhor, na hora do vamos fazer são poucos que atingem o nível de excelência desses britânicos. 


E esse nível de excelência os brasileiros tiveram a oportunidade de prestigiar, e porque não, estreitar as relações com a banda nos anos de 1990, 1992 e 1997, com as turnês dos álbuns Seasons End, Holidays in Eden e This Strange Engine, respectivamente. Depois disso, foram exatos quinze anos de espera para que os músicos voltassem a dar as caras nos palcos brasileiros. E parece que orações do público funcionaram muito bem, porque a banda trouxe ao país o melhor do rock progressivo com datas em São Paulo (11), Rio de Janeiro (13) e Porto Alegre (14). E nós, lógico, fomos conferir a passagem da banda pela cidade maravilhosa. 

A apresentação no Vivo Rio começou em alta com “Splintering Heart”, que é umas das melhores canções da segunda encarnação da banda, aonde os vocais são conduzidos pelo ótimo frontman Steve Hogarth. “Slainte Mhath” flerta com peso pulsante e momentos de, digamos, calmaria, sendo mais do que bem recebida pelo público. Com muita educação e boas doses de humor, o vocalista da às boas vindas a todos e se retrata por estar a tanto tempo longe dos palcos cariocas. O pedido de desculpas foi desnecessário, afinal, ele veio na forma de canções do quilate de “You’re Gone”.

A apresentação dos britânicos foi algo muito parecido como um best of, pois, foram uma sucessão de novos e antigos clássicos da banda. O público mais saudosista que nutre certa preferência pelo primeiro vocalista, Fish, se deslumbrou com os acordes de “Kayleigh” e Lavender – ambas do álbum Misplaced Childhood. Outros que são adeptos a atual formação se extasiaram com “Beautiful”, “The Great Escape” e “Afraid of Sunlight. 

E não pense que a banda fica revirando o passado para fazer o presente, porque o novo registro de estúdio, “Sounds That Can’t Be Made” foi muito bem aceito na encarnação da música homônima ao disco e “Power”. O álbum mais representado da noite foi o conceitual Marbles, pois, dele veio a já citada “You’re Gone”, “Fantastic Place”, “Neverland” e “The Invisible Man”. 


Para o bis, a banda atacou com uma das mais pedidas da noite, “Easter”. Incrível o poder que uma canção pode exercer sobre uma platéia, porque a música foi acompanhada pelo público em cada melodia e verso. “Sugar Mice” fecha com chave de ouro a noite que ficará marcada nos corações de todos os presentes, afinal, era no palco um dos maiores representantes do rock progressivo. Espero que não precisemos esperar mais quinze anos para ter uma noite mágica como essa do último dia 13. 


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Epica: Mais pesado e preocupado com a mensagem

Durante a mais recente passagem da banda Epica pelo Brasil no final do mês de setembro – com shows em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro – o guitarrista Isaac Delahaye, na formação desde 2009, nos recebeu para uma conversa.

O músico falou sobre o disco “Requiem for the Indifferent” estar mais pesado que os anteriores e refletiu sobre sua mensagem de se importar com as coisas que acontecem ao seu redor e ser você mesmo: “nós quisemos apontar que você precisa ser você mesmo, não deixando as outras pessoas o manipularem”, disse o guitarrista.

Delahaye falou ainda sobre a música que a banda gravou com um fã com deficiência mental, e também contou sobre a turnê “Retrospect”, que irá comemorar em 2013 os 10 anos da banda. Confira abaixo:

Olá, é muito bacana falar com você e obrigado por nos receber. Vocês acabaram de lançar o álbum, “Requiem for the Indifferent”, como tem sido a resposta ao disco até agora?

Isaac Delahaye:
Ótima! Nós fizemos a parte européia de shows com os festivais de verão, agora estamos excursionando pela América Latina e, posteriormente, iremos para América do Norte e Reino Unido. Tem sido uma agenda apertada, mas em todos os lugares temos tido um maravilhoso ‘feedback’ do novo álbum. E o disco é ligeiramente diferente do que vínhamos fazendo até agora. Sem dúvida é algo revigorante tanto para nós quanto para os fãs.

Conte-nos um pouquinho sobre o conceito do álbum e diga no que “Requiem for the Indifferent” se distingue dos outros discos?

ID:
O título se refere às pessoas que ainda não se importam com tudo que tem acontecido em nossa volta. A bolha financeira que explodiu; as pessoas no oriente que se cansaram de seus ditadores; os tantos desastres naturais, indicando que devemos nos voltar um pouco mais à natureza. Algumas pessoas simplesmente não se importam e ignoram fatos como esses. O que é uma pena e faz com que alguns mal intencionados consigam mais e mais poder. Se você não gosta de determinada coisa, então, pare de reclamar e faça alguma coisa para mudar o panorama. Essa é mensagem que queremos trazer.

Musicalmente, esse disco é um pouco mais obscuro do que o anterior, todavia, contém os típicos elementos que formam a música do Epica. Dessa vez nos concentramos mais nos vocais e construímos todos os detalhes do disco em volta dele, ao invés de adicioná-los depois de toda música ser escrita, o que deu ao álbum um aspecto bem cativante.

A banda investe uma atenção especial no teor das letras, tratando questões como religião, diferentes culturas e desastres naturais. O quão importante é para vocês escreverem canções com temas tão melindrosos?

ID:
Bem, é óbvio que nós não tratamos temas do tipo abelhinhas e melzinho. Nós tentamos fazer a diferença com as letras, queremos fazer as pessoas pensarem sobre determinadas coisas. Como eu disse antes: muitas pessoas imaginam que nada está rolando e ignoram certos problemas. E tem mais: essas temáticas combinam com a música que é muito bombástica e podem carregar uma grande mensagem.

Desde “Design your Universe”, quando você e Ariën Weesenbeek se juntaram à banda e ambos vindos do God Dethroned que tem inclinação ao death metal, a música do Epica está mais pesada e abriu mais possibilidades e influência à banda. Como e no que vocês contribuíram nesse sentido?

ID:
Eu creio que tudo é uma questão de explorar todos os lados do metal. Comigo e Ariën os horizontes estão um pouco mais amplos, e a banda está variando um pouco mais.

Pessoalmente, eu também escrevo materiais mais técnicos do que o guitarrista anterior, porque eu adoro riffs com pegada thrash. Antes as partes de guitarra eram criadas no sentido mais rítmico, dando suporte às orquestrações. Agora nos aventuramos mais, damos mais a cara a bater.

“Storm the Sorrow” é o primeiro ‘single’ e videoclipe de “Requiem for the Indifferent”. Mais uma vez as letras se destacam e minha interpretação foi que precisamos acreditar em nós mesmo, haja o que houver. E tanto o fracasso quanto o sucesso está bem diante de nós, cabe a nós escolher qual caminho seguir. Você poderia compartilhar conosco seu ponto de vista?

ID:
É sobre crítica vinda das pessoas ao nosso redor, mas também de nós mesmos. As pessoas parecem esperar muito das outras, e tendemos adicionar a isso todas as expectativas dos outros. É assim que funciona e o problema reside no fato das pessoas irem muito além com isso. Hoje em dia muita gente senta atrás do computador e sai culpando tudo e todos, e o pior, acha isso super normal. Então, basicamente, nós quisemos apontar que você precisa ser você mesmo, não deixando as outras pessoas o manipularem. Se você quer algo e suas intenções são boas, então, tudo vai funcionar bem.



Mais uma vez Sascha Paeth produziu um disco do Epica e essa parceria já vem de muitos anos. O que ele traz de tão especial à música do Epica?

ID:
Ele sabe, perfeitamente, o que a banda representa e está procurando. E, lógico, ele é grande produtor. Depois de todo período de composição e pré-produção é muito refrescante deixá-lo escutar as músicas. Como ele não as escutou antes, ele pode ouvi-las com a mente aberta, e mais, ele sempre vem com ótimas ideias para melhorar o som. Por outro lado, ele também nos dá total liberdade para fazer o que queremos, enquanto que outros produtores tentam mudar o som da banda.

Recentemente Yves Huts deixou a banda sendo substituído por Rob van der Loo. Eu suponho que tenha sido difícil ver um membro original ir embora, não é mesmo? E como chegaram ao Rob?

ID:
Nunca é legal ver um amigo partir, mas respeitamos as decisões das pessoas. Muitos de nós tocamos com Rob, no Mayan. Então, foi óbvia a decisão de pedi-lo a substituir Yves. Rob é um músico muito talentoso e é também um cara muito bacana, o que é importantíssimo se você excursiona tanto como nós. Ele é muito profissional e a transição foi muito tranquila.

No dia 23 de março de 2013 Epica vai celebrar o décimo aniversário com um show especial intitulado, “Retrospect”. Você poderia nos dizer um pouco mais sobre o que se trata essa apresentação?

ID:
Nós sentimos que era a hora de fazer algo especial. E o que é melhor que tocar nossas músicas com uma orquestra e um coral? Será um grande empreendimento, tanto que nós faremos tudo por nossa conta, sendo nada vinculado a promotor ou uma empresa. 100% Epica. É o supra-sumo de nossa carreira.

O show em si será um resumo de nossos álbuns, nós estamos trabalhando em todos os detalhes de modo a fazer dessa apresentação algo histórico. Nós todos estamos realmente animados com isso. E já existem pessoas de 20 países diferentes para assistir o show, e, com certeza, ficaremos felizes de ver alguns brasileiros lá!

Ruurd Woltring é um menino que tinha o sonho de gravar uma música com vocês, e, felizmente, esse sonho se realizou. A banda rearranjou e gravou a música de Ruurd. Como foi essa experiência para vocês? E como ela mudou o ponto de vista de vocês em relação às pessoas com certa incapacidade mental?

ID:
Nós recebemos muitos pedidos para colaborar, mas, infelizmente, não podemos atender a todos. Porém, esse caso em particular se destacou do resto, porque a história de vida de Ruurd é muito legal. Ele escreve música com tanta paixão, do coração. Com isso, nós quisemos tornar o sonho dele em realidade.

O que a maioria das pessoas tende a esquecer é que pessoas com alguma incapacidade mental geralmente têm certos talentos que vão além das pessoas ditas normais. Ruur tem o ouvido muito bom e sabe, exatamente, o que quer musicalmente.

O Epica tem cinco discos de estúdio lançados; já tocou com uma grande orquestra; lançou trilha sonora do filme “Joyride”; tem ‘songbook’ dedicado à banda e tem fãs em todo mundo. O que falta o Epica alcançar?

ID:
O mais importante para nós é continuar a escrever boas canções. Essa é a base para toda banda. Sem isso nós sequer nos atrevemos a pensar em outros objetivos.

Por outro lado, nós queremos sempre expandir nossos limites. O show “Restrospect” é uma dessas coisas. E agora é primeira vez que trabalhamos com um empresário, a fim de ver o quão longe as coisas podem ir. Existem muitas coisas que podem ser feitas e só queremos manter tudo interessante para nós e fãs.

Toda turnê vocês vêem ao Brasil e América do Sul. O que esse público representa para vocês?

ID:
Seu continente sempre apoiou o Epica. Nós adoramos voltar para ao Brasil e América do Sul. É sempre bom ir para o palco e escutar o entusiasmo da galera daí. Realmente irresistível!

Quais os planos para o futuro?

ID:
Depois dessa turnê, nós temos alguns shows em clubes pela Europa e depois iremos para América do Norte. Mais para o final do ano teremos shows na França e Reino Unido. No começo do ano que vem, nós estaremos ocupados com a “Retrospect”. Depois iremos para Austrália, Ásia e faremos os festivais de verão europeus. Nós nunca paramos! Enquanto isso, eu e Mark escreveremos as novas músicas, e esperamos ter um álbum novo no final de 2013 ou começo de 2014.

Obrigado pela entrevista, por favor, deixa uma mensagem para seus fãs.

ID:
O prazer foi todo meu! Eu acabei de chegar ao Brasil, estou ansioso para vê-los o quanto antes. Rock on!