Há algum tempo atrás quando o nome Slipknot apareceu como um dos principais a figurar no dia heavy metal do festival Rock in Rio 4, havia uma certa desconfiança no ar, por conta da morte de um dos fundadores da banda, o baixista Paul Gray; o tempo que ficaram na geladeira gerando a dúvida sobre continuidade da banda e a proposta sonora ser um tanto quanto diferente da velha escola Motörhead e Metallica.
Chegado o dia do festival outra indagação começou a pipocar: Slipknot tocando depois do trio mais pesado e sujo do Motörhead? Pelo menos para esse redator que vos fala gerou certa desconfiança, até descrença, sobre o poderio sonoro dos americanos, a qualidade de sua apresentação e a capacidade da banda em segurar a bronca de abrir para a vanguarda do thrash metal, o Metallica. Afinal, o som praticado pela banda tem como foco o público mais jovem, se preferir os adolescentes pseudo-revoltados, onde a idéia de odiar tudo e todos é sempre a bola da vez.
E como é bom dizer: minhas previsões estavam equivocadas do começo ao fim. O Slipknot trouxe, sem a menor dúvida, o show mais brutal de todo festival e conseguiu a atenção do público do primeiro ao último acorde. Inclusive do público que, digamos, já tem bons anos na longa estrada do rock n’ roll. A insanidade instaurada no palco pelos mascarados era refletida aos fãs, que por sua vez a potencializava e devolvia à banda em forma de insanos mosh pits, punhos cerrados ao ar e muitos, mas muitos, urros na tentativa de superar a desgraceira vinda do palco.
Em uma briga digna aos grandes titãs, banda e público fizeram bonito pela bacana cumplicidade e respeito entre as partes. E por falar no melindroso assunto respeito, mesmo num show em que a pista mais parecia arena de gladiadores, visto tamanha agitação e brutalidade da galera, o respeito e amizade falavam tão alto quanto o som vindo dos PA’s, indo de encontro às previsões e impressões vendidas pelos mais desinformados.
Ornamentado numa produção interessante, com direito a labaredas de fogo; telão com imagens destorcidas, às vezes sem nexo algum, em meio ao logo da banda; diversas estacas com o a letra ‘S’ personalizada fincadas pelo cenário; percussão que tem seu tablado elevado em determinados momentos do show e a bateria que se coloca na vertical para o delírio dos fãs, os americanos conseguiram a ambiência perfeita para seu caos, ou melhor, para sua música.
Não é segredo que o Slipknot não tem lá uma discografia robusta, com inúmeros álbuns de estúdio, mas nos quatro discos lançados pela banda há material suficiente para fabricação de uma bomba sonora de proporção catastrófica. E, acredite amigo, isso foi mais que provado no último domingo (25).
Do primeiro álbum vieram aberrações sonoras do teor de “(Sic)”, “Eyeless”, “Liberate”, “Surfacing” e as mega conhecidas “Wait to Bleed” e “Spit It Out”. Vale acrescentar que essas duas últimas canções citadas foram o cartão de visitas da banda no começo de carreira, e por muito tempo foram referência musical do até então pouco conhecido nome Slipknot, sendo assim, são as responsáveis pelo holofote na carreira dos músicos. E como o peso das canções incita. A recepção não poderia ser diferente do caos estabelecido pelos fãs.
“Disasterpiece”, “People=Shit” e “The Heretic Anthem” beberam muito da fonte death metal, e vêem representando o álbum, “Iowa”. Como era de se esperar, a performance agressiva dos caipiras de Iowa manteve o clima do show em temperatura elevadíssima, mas por trás da grossa camada de agressividade e presença de palco insana, os músicos se defendem com nível técnico acima da média, tendo destaque para o ‘baixinho’ baterista Joey Jordison e o vocalista Corey Taylor. Como esse rapaz canta...
Em uma comparação irresponsável ao material escrito pelos americanos, as canções “Before I Forget”, “Duality” e “Psychosocial” podem ser taxadas como os momentos mais acessíveis do repertório, onde há um flerte com vocais limpos, mas, tampouco, é sinônimo de ‘moleza’ aos fãs. O peso só está embrulhado numa forma mais amena aos ouvidos mais sensíveis.
E sem medo algum de errar ou fazer previsões sem pé ou cabeça, como alguns supostos gurus o fazem, afirmo que o Slipknot fez o show mais brutal de todo o festival, e olha que ainda faltam alguns dias de festival para rolar, com apresentações do calibre e peso de System of a Down, sendo a única banda do ‘cast’ do festival que pode tentar chegar perto da desorientação sonora produzida pelo Slipknot. E reitero o quão feliz fiquei de ver minhas equivocadas previsões caindo por terra. Digo mais. Espero que a insanidade, que também atende pela alcunha de Slipknot, volte o quanto antes aos palcos brasileiros e traga de volta esse tão bem vindo circos dos horrores.
Nota: Fiz a matéria para o veículo Território da Música: http://www.territoriodamusica.com/rockinrio/?c=27053
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