Depois de uma
fantástica estreia em palcos brasileiros quando da divulgação do álbum Shallow
Life, em 2010, e a comemoração dos 20 anos da produtora Liberation no ano
passado, a banda italiana, Lacuna Coil, estava devendo uma visita com uma
programação mais estendida, visto que nas duas primeiras visitas a banda só
passara pela cidade de São Paulo. Dessa vez, a Liberation alocou, sabiamente,
três apresentações em território brasileiro – Rio de Janeiro (01/03); São Paulo
(02/03) e Porto Alegre (03/03) -, garantindo a alegria do público que ansiava
pela apresentação dos italianos.
A noite chuvosa na
capital carioca começou com os acordes da banda, Painside, que defendeu bem seu
heavy metal tradicional que vez ou outra flerta com sotaque thrash. A banda tem
todo potencial para se firmar como um nome forte na cena metálica nacional, mas
para tal se faz necessário aparar algumas arestas e trazer à banda uma postura
mais profissional em sua apresentação, evitando a desarmonia aonde alguns
integrantes falam em demasia entre as canções e ao mesmo tempo. Todavia, há
potencial e vislumbra grande oportunidade de dar passos largos na carreira.
Já passava das 23h30min
quando o ‘headliner’ da noite deu o ar da graça e marcaria, em grande estilo,
sua estreia em território fluminense. Sob o peculiar peso de “I Don’t Believe
in Tomorrow” já se denotava que a noite seria pautada pela pujança das canções;
carisma dos músicos e por um público ávido à obra dos italianos. Com clima nas
alturas, “I Won’t Tell You” e “Kill the Light” vieram atear ainda mais fogo à
pista do Circo Voador e alardear que a carreira da banda é, sim, alicerçada e
sobreposta por uma discografia vigorosa, rechaçando equivocadas ideias aonde se
apregoa, erroneamente, superficialidade em suas obras.
Com a simpatia que lhe é característica, o vocalista Andrea Ferro – completa a banda Cristina Scabbia (vocal); Cristiano ‘Pizza’ Migliore (guitarra); Marco Emanuele Biazzi (guitarra); Ryan Blake Folden (bateria) e Marco Coti Zelati (baixo) – fez as honras da casa e anunciou “Self Deception”, a primeira representante do álbum, Comalies, que marcou o passaporte e garantiu visto de permanência da banda em território norte americano. E é impossível não associar a palavra simpatia à pessoa da vocalista Cristina Scabbia, que se porta como uma verdadeira ‘frontwoman’, relegando ao limbo a vaidade e afetações que tanto permeiam o universo artístico. Perdoem-me os mais ortodoxos, mas faz valer a criação de uma caricata justaposição: uma pequena grande artista.
Assim como a já citada
“Self Deception”, “Heaven’s a Lie” e “Swamped” trazem à tona o reconhecido e
aprovado álbum de 2002, o que afiançou alguns dos maiores momentos da noite.
“Fragile” e “To The Edge” rememoram o disco Karmacode, bem como “Senzafine” o
álbum Unleashed Memories.
De certo não era uma surpresa, uma vez que fora noticiado aos quatro ventos a apresentação do set acústico na perna latino-americana da turnê, sendo assim, quem nunca se afeiçoou ao formato pôde sair para comprar uma gelada e ou respirar ar puro fora da tenda do Circo, mas àqueles que não arredaram o pé da pista foram presenteados com o momento mais intimista da noite, extasiando-se com interpretações de canções do teor de “Falling Again”; “Closer” e Within Me.
No terceiro ato da
noite, e de volta ao formato elétrico, a dobradinha “Our Truth” e “Upsidedown” retomam
o peso e, lógico, a ambiência perfeita para um show de heavy metal. Ainda que a
banda tivesse um tanto cansada, visto que fora direto do aeroporto para casa de
show se apresentar e por conta de sua apertada agenda, não fora motivo para transparecer,
perder o pique da apresentação ou mesmo fazer corpo mole, o que pôde ser
constatado em “Survive” e “Trip of Darkness”.
“Intoxicated” trouxe à
mesa ácida crítica às pessoas que têm o péssimo habito sobrepujar o próximo a
qualquer preço. Fato não raro nos dias de hoje, infelizmente. Visivelmente
emocionada e satisfeita com o feedback do público, a senhorita Scabbia pede a
participação de todos na última canção da noite, e o ‘gran finale’ é sob as
melodias e versos de “Spellbound”.
“Estávamos no camarim
nos trocando para ir embora e ouvimos vocês nos gritando”, exclama Cristina. E
não precisava ser nenhum gênio para deduzir o desejo dos fãs, afinal, o público
já tinha amargado tempo demais na sala de espera para conferir o show dos
italianos. Com isso, a canção, “My Spirit”, veio com a responsabilidade de
colocar o ponto final na noite e homenagear o baixista/vocalista, Peter Steele
(Type o Negative).
As escorregadelas do
dia ficaram por conta da ausência do baixista, Marco Coti Zelati. E por
questões pessoais o baterista, Cristiano Mozzati, não está participando dessa
perna da turnê, sendo substituído pelo citado Ryan Blake Folden (ex- The Agony
Scene). Todavia, a estreia em território fluminense não poderia ser em melhor
forma, e como promessa feita tem que ser cumprida, então, não demorará muito
para um retorno aos palcos cariocas, visto que a bela vocalista jurou de pé
junto que voltará muito em breve.
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