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quinta-feira, 31 de março de 2011
Iron Maiden: Fronteiras no Rio de Janeiro
No último Domingo, dia 27 de Março, era a vez da capital fluminense receber a nova turnê dos britânicos do Iron Maiden, a “The Final Frontier Tour World Tour 2011”. Os ingressos já estavam esgotados há pelo menos semanas antes do evento, o que prometia um grande espetáculo por parte de público e, lógico, da banda.
Primeira Fronteira
A expectativa era de um dia inesquecível para todos que se dirigiam para HSBC Arena, algumas pessoas vinham de outros estados e cidades, mas até aquele momento isso era apenas um detalhe, afinal, era a maior banda de metal no palco, então, valia dinheiro e tempo investidos.
No fim da tarde a fila formada fora da casa era gigantesca, o que só aumentava os ânimos. Todos queriam garantir um bom lugar e ficar o mais próximo possível de Steve Harris & Cia. Com um único acesso ao interior do HSBC Arena, o que já dava indício de algo estranho no ar, a fila ‘quilométrica’ se transformou em um amontoado de pessoas o que só tornava a espera pela abertura dos portões algo ainda mais angustiante. O horário marcado pela produção para abertura dos portões era 18h30, mas, infelizmente, foi de longe desconsiderado. As primeiras pessoas começaram a ter acesso à casa uma hora depois do planejado.
A insatisfação era visível, visto a demora e falta de organização fora da casa. Alguns mais exaltados derrubaram as barricadas de acesso aos portões da Arena, o que aumentou, e muito, a desordem e possibilidade de alguém se machucar.
Com mais da metade do público ainda fora da casa - ou lutando bravamente para tentar entrar -, a ótima banda nacional, Shadowside, tocou para uma ínfima e atordoada platéia. Lamentável, visto a excelente qualidade da banda santista. Mesmo ao final da apresentação dos brasileiros o público ainda era reduzido dentro da casa.
Já passava das 21h00 quando o público conseguiu ter acesso ao HSBC Arena. E, com mais de uma hora de atraso, chegava a hora da Donzela de Ferro mostrar, mais uma vez, o porquê de ser a maior banda de metal. Logo após o primeiro verso de “...Final Frontier” a barreira que divide público / seguranças / palco rompe com a força e pressão gerada pela platéia e começa o caos e a prova do despreparo da produção em lidar e gerenciar crises. Imediatamente Bruce Dickinson para de cantar - a banda segue tocando a canção até o final - e com sinal de “corta” pede calma ao público e para que se afastem o quanto possível da frente do palco. Sem sucesso! Ninguém conseguia se mover por causa da super lotação da pista vip. Nesse mesmo instante a “iluminada e preparada” equipe de segurança encontra a solução para todos seus problemas, agredir o quanto necessário o público a fim de encontrar espaço para o reparo da barreira. Foi uma sucessão de decisões mal tomadas.
Não restando alternativa, Bruce Dickinson pede paciência ao público e promete retorno ao palco em dez minutos, pois seria o tempo suficiente para o reparo e solução do problema. Os dez minutos se estenderam para meia-hora. E eis que Dickinson volta ao palco acompanhado de uma tradutora para informar que não havia condições do show continuar, pontuando: “Nós não queremos que ninguém se machuque, a prioridade é a segurança de vocês.” E em seguida informa que o show será adiado para o dia seguinte, e para aqueles que não pudessem voltar haveria restituição do dinheiro. A insatisfação foi instantânea com a saraivada de vaias para tradutora, que sem menor idéia da ação que poderia tomar naquele instante, enaltece o público heavy metal como comportado e pede, sem meias palavras, para ninguém quebrar e ou depredar a HSBC Arena.
Dessa forma o último Domingo foi, sim, inesquecível, contudo, não por razões amistosas. A memória desse dia será da falta de respeito e pelo aborrecimento que os fãs tiveram, bem como a prova que as coisas ainda precisam melhorar um bocado em termos de organização nesse Brasil brasileiro.
Última Fronteira
Para grande maioria do público os planos para segunda-feira era ir para o trabalho e dar conta das responsabilidades do cotidiano, e não ter que se deslocar à Barra da Tijuca (para quem mora em outros bairros; cidades e estados) com a interrogação na cabeça do que poderia acontecer de errado, de novo. Com mais tranqüilidade e menor volume de pessoas, o público teve a grata surpresa de conseguir fácil acesso à casa, e melhor, havia organização, que foi item em escassez no dia anterior. Outra boa surpresa foi a grande presença do público. Uma debandada geral do público seria algo até previsível, mas não foi o que se viu.
Sem banda de abertura, o Iron Maiden começa os trabalhos às 21h15 com a pegada hard rock de “...The Final Frontier”. Os fãs respiraram aliviados depois dos primeiros versos e refrão, afinal o medo de algo acontecer exatamente nesse momento ainda pairava no ar. Sem direito a respiro e gole d’água “El Dorado”, que é a pior do novo álbum, até consegue receber boa recepção. A coisa começa a pegar quando o riff de “Two Minutes to Midnight” ecoa pelo HSBC Arena, nessa hora parece vir à cabeça um filme, take a take, do clássico ao vivo Live After Death e os milhões de vezes esse VHS fez alegria dos fãs que, digamos, já têm bons anos de heavy metal.
“Como vocês estão, tudo bem? É muito bom tocar no Rio de Janeiro.” Esse foi o primeiro contato do vocalista com o público, que aproveitou para agradecer a todos por voltarem e prestigiarem a banda, e ainda brincou com o acontecido do dia anterior “Hoje, nós temos uma linda, brilhante e cara barreira de proteção. E o melhor de tudo que nós não pagamos por ela e vocês também não”. O que garantiu boas gargalhadas e contribui para colocar um ponto final nos problemas do dia anterior.
“The Talisman” e “Coming Home” deram continuidade ao show e mostrou para os mais desatentos e esquecidinhos o porquê de Bruce Dickinson, ao lado do saudoso Ronnie James Dio, ser o maior vocalista de metal. Voz e interpretação irrepreensíveis. Prova que a banda ainda tem muito gás e que bons trabalhos virão no futuro próximo. Com uma produção de causar inveja a muitos veteranos do rock n’ roll, a banda troca a cada música o pano de fundo, e dessa vez quem aparece é o Eddie transvestido de morte, dando a dica que é hora de “Dance of Death”. Uma das melhores canções do álbum homônimo que conseguiu se encaixar bem ao conceito da nova turnê. “The Trooper” é recebida com entusiasmo que já é praxe em todos os shows da Donzela. Não precisa comentar que o vocalista se vestiu de cavalheiro, agitou incessantemente a bandeira inglesa e que o público cantava cada verso da canção.
“The Wicker Man” pôs ainda mais fogo na platéia, como se fosse preciso, com seu ritmo acelerado e refrão pegajoso. Naquela altura do show a banda já tinha conquistado cada uma das pessoas presentes no HSBC Arena. “Blood Brothers” é dedicada aos “irmãos” japoneses que, infelizmente, estão enfrentando duras provações nas últimas semanas. Coincidência ou não com acontecimentos no Japão, a música seguinte “When The Wild Wind Blows” trata das mudanças que o mundo tem atravessado, bem como as catástrofes naturais. Destaque para os guitarristas Dave Murray e Adrian Smith que mostraram que verdadeiros bons guitarristas são seres em extinção.
“The Evil That Men Do” rememora o quão excelente é o álbum “Seventh Son of a Seventh Son”. Além disso, é nessa hora que sobe ao palco o mascote, Eddie, com sua distinta beleza, sendo ovacionado por todo público. “Fear of the Dark” é certeira com suas melodias, solos e peso, mas poderia ter sido facilmente substituída por outra canção do calibre de “Wasted Years” que não faria a menor falta.
A canção “Iron Maiden” é o anuncio que a primeira etapa do show está chegando ao fim. Nessa hora vem aquela triste constatação de que tudo que é bom insiste em acabar cedo. Ainda em “Iron Maiden” o mascote, Eddie, surge por detrás da bateria de Nicko McBrain em uma encarnação ainda mais impressionante com seus incríveis 8 metros de altura, fechando com chave ouro a primeira parte da The Final Frontier Tour World Tour 2011, na cidade do Rio de Janeiro.
Depois de um rápido intervalo, a sinistra introdução de “The Number of the Beast” é o prenúncio que o culto à besta está para ser feito. Por ser um dos maiores hinos da banda - e do heavy metal -, a música foi um dos pontos altos da apresentação dos britânicos. “Hallowed Be Thy Name”, ao lado de “Alexander the Great”, pode ser dar ao luxo de ser a melhor canção na carreira da banda. Mesmo com a idade desfavorecendo grande parte dos vocalistas, Bruce Dickinson ainda pode se orgulhar de conseguir atingir notas altas, o que sempre foi uma de suas marcas características registradas, e abrilhantar ainda mais a execução de “Hallowed By Thy Name”.
“Running Free” é como se pudéssemos viajar no tempo para assistir ao show da banda no lendário Marquee Club. Talvez a sensação fosse essa mesmo. Cada verso e refrão são cantados em uma única voz, e ainda há espaço para uma rápida apresentação da banda. Como se ninguém soubesse quem é quem no Iron Maiden.
Depois de uma hora e cinqüenta e cinco minutos de show o Iron Maiden mostrou o porquê de ser a maior. Mesmo para viúvas choronas que insistem por uma “volta às raízes”. Mas é certeza que ficou na memória da grande maioria fãs uma noite de um grande espetáculo. Talvez o questionamento que surja é o porquê do domingo não pôde ter sido exatamente assim: sem problemas e com uma organização bacana.
Nota: Fiz essa matéria para o site Território da Música. Segue o link com a publicação: www.territoriodamusica.com/shows/?c=1041
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